2 de Março: é preciso evitar que o mov. social seja presa fácil das estratégias políticas

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Vários colectivos e organizações marcaram uma manifestação para o dia 2 de Março. Muitos dos seus subscritores estiveram também ligados a outros momentos de indignação popular como o 12 de Março, o 15 de Outubro, o 12 de Maio (que acabou por ser um fiasco) e o 15 de Setembro. Em todos estes momentos, embora variasse, houve milhares de pessoas que saíram às ruas mostrando a sua indignação, o seu protesto, a sua revolta. Agora, dia 2 de Março pretende-se o mesmo: mostrar que estamos indignados. Bastará? Não se sabe já isso? São precisos mais dados concretos?

Claro que não. Todos sabemos que há uma indignação e uma revolta generalizadas com as condições de empobrecimento, de miséria e de corte em tudo o que são direitos sociais levados a cabo pelo actual governo, sob o álibi da troika. Daí que, como proposta, este grupo que convoca a manifestação tenha uma alternativa: ” Exigimos a demissão do governo e que o povo seja chamado a decidir a sua vida”., dizem no manifesto que convoca o protesto. E aqui é que a“porca torce o rabo“: afinal que alternativa é esta que nos propõem que apenas significa deixar tudo como está ou, em contraponto, entregar o governo ao PS que não fará nada de muito diferente daquilo que o PSD/CDS estão a fazer?

Mas será que estas dezenas de pessoas que assinam o manifesto não terão alternativa melhor? Nunca ouviram falar da auto-organização;  da possibilidade de organização social por parte de grupos organizados e em rede, autogestionários;  das capacidades do movimento popular em encontrar, através das assembleia populares e da democracia directa, formas de autogoverno? Nesta altura do “campeonato” virem propor como mobilização aos movimentos sociais a“demissão do governo”, enquanto uma das palavras de ordem centrais, mais parece uma alternativa mentirosa e (uma vez que se sabe que mesmo que haja a queda deste governo qualquer outro que para lá vá vai fazer o mesmo, ou com muitas semelhanças), não será o mesmo que pretender desmobilizar o protesto e a indignação a troco de meia dúzia de votos que não vão servir para nada??

Entre mentiras e não ditos esta palavra de ordem, embora apetecível para muitos de nós que sofrem na pele a actuação deste e de outros governos, esconde por detrás o que é a farsa do eleitoralismo: BE e PCP querem eleições porque se contentam com mais um ou dois deputados, vivem do dinheiro das rendas parlamentares e os momentos eleitorais são óptimos para relegar as lutas populares e autónomas para segundo plano. Pouco lhes importa quem ganhe as eleições. Sabem que não são eles, mas com mais um ou dois eleitos – se for esse o caso – sempre podem gritar por vitória

Sem querer pretender que as manifestações apenas têm este objectivo – e isso não é verdade -, nem que entre quem as convoca não haja muitas pessoas de boa fé, julgo que não vale a pena fazermo-nos de ingénuos e considerar que o BE, por exemplo, não tem ali uma “mãozinha” forte. Isso não seria grave desde que fosse feito de maneira aberta, clara e transparente e que o eleitoralismo desbragado de querer hipotecar o movimento popular em troca de um pozinhos de percentagem eleitoral (e vamos  a ver se os vão ter…) fosse posto de parte.

Todos os momentos são bons para o protesto e para a indignação, mas o protesto e a indignação têm que dar origem a momentos de construção de alternativas sólidas e consequentes. Pretender que a consequência e alternativa dos protestos de ontem, de hoje e do futuro será uma mudança  de governo (qualquer que ele seja) e de chicote dá a bem ideia que os políticos têm dos movimentos sociais: apenas carne de canhão para os seus projectos partidários, particulares e nauseabundos.

Por isso, seria bom o aparecimento de outras convocatórias para o dia 2 de Março, também elas de protesto e indignação, que pudessem desaguar no grande mar que nesse dia serão muitas cidades do país, mas que não se limitassem ao reformismo e eleitoralismo patentes na convocatória original. Podemos marchar juntos, mas temos que ter consciência que não marchamos todos para um mesmo lado. Uns querem-se representar no Parlamento e ficam satisfeitos. Outros, como nós, nunca aceitaremos que nos representem!

Sem título

Aqui: http://grazia-tanta.blogspot.pt/2013/01/apelo-transparencia-e-propostas-contra.html

Ainda sobre algumas mentiras que por aí andam: Não é difícil ouvir gente do BE e do PCP dizerem que é possível elegerem, em conjunto (?) aquilo a que chamam “um governo de esquerda”, justificando, por isso,  a palavra de ordem que visa a convocação de eleições. Este mapa mostra quanto isso é mentira. O quadro agrupa a direita tradicional (PS e PSD); aesquerda (agora PCP e BE, mas já foi PCP e outros partidos), a direita xenófoba (agora CDS) e a abstenção. Em valores absolutos tudo se mantém idêntico desde 1975 – apenas a abstenção tem aumentado. Mesmo com os “últimos barómetros” PC e BE andam a “apanhar bonés”,eleitoralmente falando. Quando pedem eleições (e com isso comprometem os movimentos populares como se essa fosse  a única saída para a “crise”) BE e PCP sabem que não têm qualquer perspectiva de serem governo. Aquilo que os move é o centro da sua (in)actividade política: mais umas décimas de percentagem eleitoral, um ou outro deputado e a verborreia burocrática em que, no Parlamento, se tornaram mestres, numa imitação quase perfeita dos chamados “partidos maioritários“. Seria uma tristeza que conseguissem arrastar o movimento social de protesto e indignação para tal iniquidade.

e.m.

http://colectivolibertarioevora.wordpress.com/2013/02/06/2-de-marco-e-preciso-evitar-que-o-movimento-social-seja-presa-facil-das-estrategias-politicas/